domingo, 11 de maio de 2008

O Desafio Populacional - por P. Kennedy

O crescimento demográfico mundial é pesquisado por centenas de estudiosos em todo o mundo. O aumento da população humana em todo o globo causa inquietações e cria perspectivas. Leia atentamente o texto a seguir que aborda quais seriam alguns destes problemas.

O problema do crescimento populacional hoje não consiste só no fato de que a cada ano existe um acréscimo aproximado de 80 milhões de indivíduos no planeta que consomem recursos. O fato básico é que povos diferentes produzem padrões diferentes – alguns crescendo depressa, outros estagnados ou crescendo muito pouco e outros ainda em declínio absoluto. Entre os Anos 1993 à 2025, a previsão é que 95% de todo o crescimento mundial da população ocorrerá nos países periféricos, sendo que a taxa média de crescimento demográfico mundial de 1,7% nos Anos 1990 esconde desigualdades incríveis: Na África esse crescimento é de 3% ao ano e na Europa somente 0,4%.

Tendo em vista os desequilíbrios de tendências entre as sociedades ricas e pobres, parece improvável que não ocorram ondas de imigrações internacionais na aurora d século XXI. A Austrália, por exemplo, deve aumentar sua população hoje (1992) de 17,5 milhões para somente 22,7 milhões no ano de 2025, ao passo que a vizinha Indonésia, com 190 milhões hoje (1992), deve pular para 265 milhões em 2025; Os Estados europeus meridionais – Espanha, Portugal, Grécia, França e Itália – cujas populações combinadas devem aumentar menos de 5 milhões até o ano de 2025, estão próximos dos países norte-africanos – Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Egito – cujas populações devem ser acrescidas de mais de 105 milhões nesse mesmo período; e os EUA, com uma previsão de crescimento populacional de 25% de 1990 a 2025, tem como vizinho ao sul México e Guatemala, que devem crescer nesse período 90% e 225%, respectivamente.

Embora seja claro que os países centrais façam hoje grandes esforços para restringir a imigração, os migrantes desesperados provavelmente não se deixarão desanimar. Nem a lei de imigração e naturalização dos EUA de 1986, e nem as mais freqüentes patrulhas ao longo da fronteira com o México acabaram com o fluxo de imigrantes para o norte, Para os EUA, que voltou a passar de um milhão a cada ano. O momento, nada menos que 15 milhões de homens, mulheres e crianças estão vivendo em campos de refugiados, na Europa Oriental e no sudoeste, sul e sudeste da Ásia, esperando um lugar para onde ir. Embora eles possam encontrar obstáculos, muitos conseguem ultrapassar as fronteiras. São com freqüência ajudados e abrigados por parentes que já fizeram a travessia. E cada vez mais são estimulados pelos meios de comunicação, o que significa que agora as pessoas, mesmo sendo muito pobres, sabe como se vive em outras partes do mundo, e tentam ir para áreas mais prósperas, seja por terra, pelo mar ou pelo ar.

Portanto, apesar de muitos esforços, o controle da imigração nos países centrais provavelmente não terá êxito, diante das acentuadas discrepâncias nos equilíbrios demográficos mundiais. Talvez, a mais convincente de todas as estatísticas seja a que mostra que, enquanto as nações industrializadas ricas representavam um quinto da população da Terra em 1950, essa parcela caiu para um sexto em 1985 e há previsões que vai se encolher ainda mais, para apenas um décimo no ano de 2025.

Neste período, apenas duas sociedades desenvolvidas – EUA e Japão – estarão entre os países mais populosos, e as demais serão consideradas “países pequenos”. Esse fato coloca dois cenários possíveis, e ambos preocupam os países ricos. O primeiro seria a hipótese de os países pobres cresceram economicamente mais que os ricos (hipótese muito difícil e aplicável somente a pouquíssimas nações do mundo), neste caso, haveria uma redefinição do poder global, ou seja, influência política, cultural, econômica e até cultural de umas nações sobre as outras, resultando na diminuição do poderio dos países desenvolvidos. E o segundo cenário seria de os países pobres continuarem presos a armadilha da pobreza, com as desigualdades econômicas continuando a se ampliar, nesse caso, os países desenvolvidos ficariam sitiados por dezenas de milhões de migrantes e refugiados, pobres em sua maioria, ansiosos por viver entre as populações prósperas e cada vez mais envelhecidas dos países do norte.

KENNEDY, Paul; In: Preparando para o século XXI. Rio de Janeiro. Ed. Campos. 1993. P.33-41

Nenhum comentário: