terça-feira, 1 de novembro de 2011

Religião: Se aprende em Casa ou Escola?

Debates são sempre salutares. Na esfera da escola e da educação, mais importante ainda, uma vez que os conjuntos de conhecimentos que devem constar na pauta, no currículo fazem a diferença na formação de nossos jovens.

O tema deste “post” vem em função desta notícia:
Prefeito Sanciona Lei Que Institui O Ensino Religioso Nas Escolas
A disciplina, que é optativa, será oferecida aos alunos do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental a partir de 2012

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O ensino religioso é um tema muito polêmico. Em 2008, o então presidente Luis Inácio Lulla da Silva acordou com o vaticano alguns tratados, entre eles, manutenção de patrimônio religioso com subsídio estatal, caso necessário, e do ensino religioso nas escolas. A idéia em si, não é ruim, mas, acaba se tornando terrível, em função de certas premissas que costumam passar despercebidas. Sou totalmente contrário a instauração desta disciplina.

Em primeiro lugar, me passa a impressão de ferir uma base de nossa constituição onde se lê que o Estado Brasileiro é Laico. Laico não significa q o Estado é Ateu. Em outras palavras, o Estado não pode favorecer ou prejudicar quaisquer manifestações religiosas. Opção religiosa é de foro intimo, individual e intransferível. Compete a cada pessoa ter ou não um credo. O Estado não pode subsidiar, pagar salários, enfim, usar dinheiro de imposto – de teístas e ateístas que contribuem de forma igual – para agradar um lado em detrimento do outro. Não é democrático.

Em segundo lugar, o Publico alvo: crianças do 1º ao 9º Ano do ensino fundamental. As crianças ainda não têm discernimento, sequer bagagem Emocional e RACIONAL para discutir temas religiosos. Muitos adultos que se dizem firmes na fé, quando confrontados, titubeiam, esbravejam e partem pra falácias ou proselitismo gratuito, sem de fato, querer discutir a questão. Sem contar que, nos remete ao primeiro item: são os pais, na educação de questões de valores, moral e ética em sua família que devem resolver isso. É determinar para a escola mais uma função que é incumbência dos pais.

Em terceiro lugar, a ementa, o material: o que deverá ser ministrado. Se o conteúdo fosse história das religiões, por lógica de área de conhecimento, deveria ser encaixado em História. Se bem que, é improvável que se trabalhe este tipo de conteúdo. Assim, existe o perigo de ser apenas um ensino doutrinário. A doutrina não estimula o pensamento crítico. Ela o poda.

Em quarta e última colocação, mas não menos importante, está uma constatação: o ensino no Brasil é péssimo. Sobretudo, em amplas parcelas da escola pública, alvo desta consideração. De sorte que, se conseguíssemos ao menos ensinar com ótima qualidade as matérias do curso básico (português, literatura, matemática, história, geografia, química, física, biologia, inglês, espanhol, filosofia e sociologia), mas nem isso é feito!

Muito mais útil, a meu ver, para a construção de gerações mais apegadas ao pensamento crítico seria o incrementar a filosofia, ou sociologia. Razão, lógica, conhecimento pra domar as trevas da ignorância e do descaso que nos persegue como fantasmas. Se o nosso objetivo é a formação de cidadãos plenos, conscientes e capazes de intervir, mudar a realidade social que os cerca, seria muito mais interessante inserir discussões e noções de política. É dela que as pessoas (principalmente nós, brasileiros) podemos de forma concreta mudar e exigir melhoras nos nossos direitos fundamentais para gozar de boa qualidade de vida.

Márcio Bezerra da Silva. Prof. de Geografia.
Deixarei aqui disponíveis alguns vídeos com opiniões sobre o tema. Caso Interessem, Assista-os.