O Poder dos "M's"
Elian Alabi Lucci
(Notas de conferência para texto originalmente destinado ao livro "Globalização e o poder dos M's", em co-autoria com o saudoso mestre Milton Santos)
Neste estudo, trataremos resumidamente da Globalização e dos poderes que mandam no mundo com o advento da quarta fase desse processo, a partir dos anos 1990. A partir daí, o mundo passa a se estruturar em função de poderes que, em sua quase totalidade, deixam-se representar pela letra "m".
O primeiro M é o Mercado.
Entende-se por mercado todas as relações de compra e venda, seja ela entre pessoas, instituições ou países. O comércio internacional hoje é uma das atividades mais importantes de toda a história da humanidade.
Um exemplo disto é uma placa que se encontrava na entrada de um grande depósito em Portugal e na qual constava "Se você não sabe o que quer, entre que nós temos". Com esse exemplo conseguimos enxergar que existe uma grande demanda criada pelo mercado. O mercado através de outros emes - que serão abordados a seguir - sabe impor as novas condições de vida à sociedade, moldando-a conforme sua oferta.
O segundo grande M é de Multinacionais;
Que a partir da década de 1960, começam a mandar no planeta. Representam as empresas Multinacionais ou transnacionais que desenvolvem seus produtos todos voltados para o mercado internacional.
Essas empresas que eram em 1960 aproximadamente 3.000 (três mil) chegam ao final dos anos1990 com um número estrondoso de 60.000 (sessenta mil). São essas empresas que comandam todo o processo econômico global a partir, entre outras coisas, da aplicação da relação custo-benefício. Com o processo de desterritorialização graças às três revoluções que sustentam a globalização (Meio de Transportes, Meios de Comunicação e Revolução Tecnológica) as fronteiras caem e a soberania dos países vê-se ameaçada.
O Poder econômico das multinacionais passa por cima das fronteiras e do poder dos governantes abalando assim a própria base jurídica do Estado que é o território.
Para que as multinacionais conseguissem chegar ao poder de mando que elas têm hoje em toda a sociedade global elas dependem de vários ajudantes de ordens que começam também pela letra M.
O primeiro desses poderes ou ajudantes de ordem é a Mídia.
Esta que era até bem pouco considerada o quarto poder hoje praticamente se constitui como um segundo poder. Podemos até dizer, em linguagem futebolística, que é ela que faz o meio de campo para a vitória das transnacionais.
Pode-se ainda atribuir à mídia a denominação "braço armado" do processo de globalização, tal a guerra que ela provoca bombardeando nossas consciências defendendo que sempre precisamos de algo mais para nos inserir neste mundo que não é mais nem capitalista, nem socialista, mas materialista e hedonista.
A mídia criou um novo tipo de sociedade que um grande pensador francês, Guy Debord, denomina "A Sociedade do Espetáculo". As eleições norte-americanas se transformam num verdadeiro espetáculo. A Copa do Mundo e as Olimpíadas se tornam também na mão das multinacionais e da mídia em grandes espetáculos que sugerem um determinado modo de vida e a compra dos mais diversos tipos de produtos que preenchem a cada dia novas necessidades que este M poderoso, da mídia, cria.
Depois do papel exercido pela mídia um outro M poderoso que com ela cria o grande complô representado pela palavra compra é o Marketing. A partir de 1960, graças a um homem de marketing, Teodore Levit, o marketing ganha uma força monumental e cujo principal objetivo é "criar necessidades", ou melhor, ainda, vender aquilo que não queremos comprar. A própria atual fase do processo de globalização começa com as considerações deste homem de marketing.
Esta quarta fase da globalização foi gestada a partir dos anos 1960 e vai se consolidar trinta anos depois nos anos 1990. Ela traz consigo uma nova sociedade denominada de "Sociedade da Informação", do Conhecimento ou Pós-industrial. Essa sociedade não e mais regida pelo sistema de produção Fordista-Taylorista, mas pelo sistema Toyotista.
O quarto M que alimenta a cadeia do consumo, que faz a alegria das multinacionais é a "marca". Tudo hoje, no mundo das compras, é regido pelas marcas, desde as fraldas de um recém nascido até o desespero dos mais velhos em consumirem vitaminas e suplementos produzidos pelas grandes farmacêuticas multinacionais com o intuito de estender a vida humana no planeta.
Na Itália encontram-se mais de mil grandes agências de publicidade que ganham fortunas para transformar as vendas de produtos de caráter local e regional em grandes produtos ou grifes internacionais. Esse processo de transformação recebe o nome de "Naming", que começa quase sempre pela alteração do nome do produto que é vendido em caráter local para um nome mais aceitável em caráter global.
Com a globalização, o "Logo" das grandes empresas multinacionais vale mais do que todo seu ativo fixo, Como por exemplo a Coca-Cola, Nike, Xerox entre outras que tem seu logotipo mundialmente conhecido e valorizado. Uma criança de apenas 3 ou 4 anos de idade hoje já identifica os produtos do Mc Donald`s. Bastando para isso apenas ver o logotipo desta rede mundial de fast-food que pelo marketing acaba despertando a sua vontade e necessidade de consumir tais produtos.
Outro M é a moda, que vem como conseqüência da marca que são trabalhadas insistentemente pelos meios de comunicação que usam para isso grandes nomes da televisão, cinema e do esporte como referências do consumo de determinados produtos e marcas.
Um M mais recente e que ganha proporções, sobretudo entre os jovens, é o Messenger. Ele é um meio de comunicação e pode ser entendido como uma grande revolução nos meios de comunicação.
Alem de aproximar o mundo com conversas é onde os jovens têm desenvolvido a maior parte de seus diálogos e relações sejam elas benéficas ou maléficas como amizades ou tormentos nas vidas alheias (Bullyng, Fraudes, Crime Virtual, que normalmente vem junto com o crime organizado, entre outros).
No Japão já há inclusive uma vultosa literatura de romances para celular. O Messenger é um meio de comunicação que tem sido muito utilizado para redução de custos, de tempo e saliva. Apesar de todos esses benefícios, tem trazido prejuízos à gramática dos que o utilizam com a criação de abreviações irregulares e palavras inexistentes que empobrecem a gramática e a língua portuguesa em si.
No campo cultural, mais precisamente da música, que é uma das formas de entretenimento mais disseminada na sociedade global, também temos um M regente, este é o Mp3.
O mp3, como formato de musica digital, revolucionou o mercado de players dando espaço a novas marcas e produtos que também foram influenciados pelo marketing e moda. Também revolucionou a venda de músicas, quando há alguns anos atrás se comprava CDs hoje se compram Mp3 em lojas virtuais.
Aí está um exemplo marcante do que se produz na sociedade Pós-Industrial e que muda o conceito de trabalho, possibilitando oportunidades ao invés de uma busca por emprego fixo que era forma clássica de trabalho na sociedade industrial. Um exemplo disso é o que ocorre hoje na sociedade norte-americana, em que, uma pessoa que vive até os 60 anos, muda em média oito vezes de emprego ou de ocupação.
A ERA DO ACESSO
Diante do que acabamos de observar, o consagrado autor Jeremy Rifkin, traz o conceito de uma nova era a qual denomina de "Era do Acesso". Esta era é marcada pela flexibilidade, descartabilidade e facilidade de substituição de bens, produtos e serviços como nunca se viu em épocas anteriores. Uma pessoa que se casa e monta uma residência com todos seus utensílios e equipamentos tais como máquina de lavar, geladeira, forno de microondas, televisão, computador, etc., ao voltar da lua de mel perde grande parte do valor investido em todos estes produtos, pois já surgiram outros com novos designs e novas funções.
Uma saída para esta situação fruto da sociedade Pós-Industrial em que vivemos, passa pelo Leasing (locação) e não a compra efetiva dos produtos mais suscetíveis a mudanças visuais preenchidas pela moda.
Um exemplo de facilidade de acesso são os restaurantes "fast-food", quando se sente fome, simplesmente se procura um desses restaurantes e em alguns minutos está pronta a comida de sua preferência.
Hoje não são só hambúrgueres ou sanduíches fast-food, encontramos com o encurtamento de distâncias as mais diferenciadas culinárias de todos os países reunidos as vezes em uma só praça de alimentação, são as mais populares as comidas, italianas, árabes, japonesas, chinesas e, é claro, a americana.
O principal produto desta era é a informação.
Há alguns anos para se conseguir informações históricas era necessária uma enciclopédia, como a Barsa, a Delta, a Mirador e outras.
Hoje em dia bastam alguns cliques para se encontrar a mais diversificada informação de diferentes fontes e pontos de vista. Paginas de internet como o Google ou a Wikipedia assumem esse espaço cada vez mais. Ainda nesse aspecto de internet vemos como é fácil o acesso a perfis de pessoas de todo o mundo através de sites de relacionamentos, e comunidades dos mais diversificados interesses facilitando ainda mais o acesso a tudo que é de seu interesse, filmes, livros, músicas, mudando as relações de compra e venda.
Nessa nova era as pessoas têm mudado os seus hábitos. Para fugir do caos que tem se tornado as grandes cidades; com a facilidade na compra de um carro o cidadão começa a evitar sair para realizar suas tarefas mais comuns, como compras de mercado, tarefas bancárias e até mesmo a locação de um filme, conseguindo realizar tudo isso por meio da internet. Diante dessas facilidades, aí esta uma grande causa de desemprego, até o ponto que já se pode imaginar um mundo sem empregos: como nos empregos clássicos tão conhecidos da sociedade industrial, assim foi visto na revolução industrial, quando homens eram trocados por máquinas, e hoje... pelo virtual.
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